sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio de sangue


Não como praga de um Deus


Mas te clamam piedade

Perguntam por que se repete

O Rio de sangue

Não o Nilo do Egito

Mas este do messias

de braços abertos

Este de outrora maravilhoso

De encantos naturais

...

Tuas pirâmides de pedras

À beira dos morros

teus faraós

Revoltos em seus sarcófagos

Buscando perpetuar essa vida

Onde está tua maravilha?

Onde está tua beleza?

...

Copacabana

Copa da bala

Homens em cana

Homens da bala

Copa bacana

...



Quais foram teus pecados?

A quem quiseste ofender?

Teus filhos pagam o preço

de quem não quis obedecer

Filhos do sistema

Filhos do rio

Não do Nilo

Do Rio de sangue

...

Que fizeste tu Egito canarinho

para a ira dos deuses suscitar?

Quero ver-te maravilhosa

Com os mesmos braços abertos

Não de rendição

Mas de redenção

Do redentor

Da redescoberta

de Copacabana

Copa bacana



domingo, 21 de novembro de 2010

Construção


Passei - até recentemente - minha vida sem saber que existia  a música de Chico Buarque. Não entendo como isso aconteceu, mas agora estou me deliciando com suas canções. Fiquei encantado com uma música dele e resolvi postar aqui para os interessados. Foi na repressão, é verdade, era no período da ditadura, beleza. Mas será que não continua a acontecer toda essa história; com personagens diferentes? É pior, na ditadura via-se os fardados. Hoje ninguém vê, mas sente... Por isso eu brigo com o sistema como se fosse de verdade, me revolto como se isso adiantasse, luto como se fosse fácil vencer... Quem melhor que ele pra mostrar como é... Veja e pense...

Construção/Deus lhe pague

"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir."

Chico Buarque de Holanda.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sistema Copulado

O Polícleto está com raiva, não do mundo, como parece, mas do que fizeram dele; da coisa que o fizeram ser; coisa... Estou como aquele que clama no deserto, falo para os seres que, não como médicos, mas como dotados de sentimentos, acreditam que o mundo está doente... Maldito seja o sistema de Hegel, um emaranhado de abstrações, principalmente pelo que fizeram dele. Esse sistema "fechado", impenetrável, está tal e qual para uma prostituta de pernas abertas, ou como diria em linguagem de caboclo que sou, "mais furado que tábua de pirulito". O desencadear de ideias não me leva nem me eleva o espírito. Maldito seja quem inventou a burocracia, palavra feia, começando pelo nome... ela serve muito bem para robôs que executam tarefas pré-estabelecidas ou ainda para coisas, reificadas mesmo, tornadas meros instrumentos... burocracia... quem gosta de você? Estou farto de ficar tal como se não tivesse pretensões amplificadas, como a maioria dos filósofos se diz ser. Vou enfrentar a maioria. Não tenho munição suficiente, minha aljava de ideias tem poucas setas, por isso devo ter cuidado ao atirar cada uma delas. Não sou filósofo nem poeta, sou um cara que por não concordar com essa langonha chamada de sistema; quer mudar, mesmo que seja furando as abstrações uma por uma... Perpassando por entre estes conceitos que não tem existência nem utilidade vital... indo além do conceito. Alguém já viu o Estado passando por aí? e esse tal sistema que insiste em ficar fora do ar... ele não gosta de trabalhar, é verdade, mas ninguém tem poder para demiti-lo? Essas abstrações devem ser banidas do nosso mundo, dessa "coisa" que chamamos mundo. Somos humanos, devemos ser tratados assim, pelo menos enquanto nos relacionamos uns com os outros, ou até copularmos com o sistema... E o que será gerado? Não sei, mas como está não pode ficar, tem que ser outra coisa...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

I - mundo






Meu mundo é pequeno. Posso percorrê-lo com meus passos. Ele tem quantas pessoas posso conhecer. Meu mundo não tem fronteiras. As pessoas não passam fome. No meu mundo ninguém briga por causa de Deus. Lá todos são iguais. Meu mundo é diferente de outros mundos. Desses que tem Reis sóis. Desses de passaporte. Meu mundo é diferente. Lá se age e pensa pra viver. Em favor da vida. Não há maior nem menor. Meu mundo só tem uma cor. Todas juntas num só feixe. Tudo é colorido. No meu mundo não há relatividade, e se houvesse não mataria milhões. Meu mundo não tem guerras, nem santa, nem dos diabos. A morte passa fome por lá. Meu mundo é diferente... É outro mundo... É imundo... É esse mundo...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De-saudade

Não existe o mal
As coisas são como são
Então porque choras Polícleto?
- Choro porque sinto saudade
...
A dor da partida não é mal
O adeus...
 da viagem...
da morte...
...
.São expressões. de sentimento
O que é saudade?
...
Não perscrute
...
Sinta
...
Nossas mágoas não causam lágrimas
por causa da de uma mentira proferida,
mas pela dor da verdade desvelada.